O português Vítor Pereira, do Corinthians, é um ótimo técnico. Ele sabe de tática, é experiente, já venceu títulos no exterior e consegue dar, rapidamente, um padrão mínimo ao seu time, mas, ao meu ver, fala muito, e com muita sinceridade, principalmente no que diz respeito ao seu elenco.
As entrevistas coletivas de Vítor Pereira são excelentes para a imprensa, mas ele próprio cria os problemas que serão discutidos. Muitas vezes, o problema nem foi notado, mas ao fazer uso do bom e velho "sincericídio" de sempre, Vítor faz com o que o problema ganhe vida.
Recentemente ele disse que Willian, Yuri Alberto e Róger Guedes não podem jogar juntos e justificou que os três não marcam e, com isso, o time fica exposto pelos lados. É 100% verdade, mas ninguém estava problematizando isso. O tema não estava em discussão. Ninguém havia percebido até ele falar.
Agora, só se fala nisso: Quem vai ficar de fora? Qual será o trio de ataque titular? Qual o motivo de gastar tanto em atacantes se o técnico não vai colocá-los jogando juntos? O problema foi criado, e pelo próprio Vítor.
Não é a primeira vez que ele faz isso. Vítor já deu declarações muito duras ao falar de Róger Guedes, basicamente dizendo que não confiava no atacante. Obviamente não pegou bem e a resposta veio rapidamente. O clima azedou. Crise formada e sem nenhuma necessidade.
Vítor é muito sincero e os jogadores brasileiros não estão acostumados ou preparados para isso. A grosso modo, são mimados. Nunca, jamais, em hipótese alguma um técnico deve criticar o seu jogador individualmente em uma coletiva de imprensa. É o manual básico do técnico no Brasil. Vítor Pereira não liga pra isso.
Enquanto o time está vencendo e todos os jogadores estão tendo minutos, tudo bem, passa batido. No momento em que acontecerem eliminações e o técnico não funcionar como um "escudo" para os jogadores, a casa deve cair.
Jogadores no Brasil gostam de serem tratados coletivamente quando o assunto é negativo e individualmente quando se trata de coisa positiva, por mais que omitam. Além disso, entendem que é uma obrigação moral, como um pacto de vida quase, que o técnico sempre defenda eles em público. Vítor Pereira ou não entendeu isso ainda, ou não liga muito para essa parta do relacionamento com os atletas.
Ser técnico no Brasil é complicado. É uma profissão de risco a integridade física e mental. Vítor Pereira, se quiser durar mais com seu elenco, precisa ser menos direto e mais fugaz em suas respostas. Não estou fazendo juízo de valor de quem está certo ou quem está errado, mas que é possível se constatar que Vítor causa vários problemas internos desnecessários com suas declarações sinceras em público, isso é, e é bem fácil.